Toy Story 4 e a nova fábula Disney sobre velhas amizades

Ana Paula Santos

A animação Toy Story marcou uma geração inteira por diversos motivos, desde o pioneirismo em ser o primeiro longa-metragem de animação cem por cento criado por computação gráfica até os seus personagens marcantes e emblemáticos. Quando a parte 3 foi lançada, em 2010, pareceu a todos que o ciclo estava encerrado e toda a estória já tinha sido contada. Bom, aquele ciclo realmente foi encerrado, mas a estória… essa ainda não acabou.

A Disney-Pixar surpreendeu crítica e público quando anunciou que Toy Story 4 seria uma realidade e agora ela nos entrega um dos lançamentos mais legais de 2019 até o momento (claro que ainda tem MUITA coisa bacana prevista para chegar aos cinemas até dezembro, inclusive da própria Disney, mas estou contando apenas os filmes já lançados e que tive oportunidade de assistir). No dia 18 de junho eu fui representar o programa Cine Zero na cabine de imprensa oferecida pela Disney para divulgar esse filme.

Comentando um pouco sobre a trama, Toy Story 4 começa com um flashback do passado, quando Woody, Buzz Lightyear e companhia ainda pertenciam ao garoto Andy. Essa sequência nos situa sobre o destino da boneca Betty, a pastora de porcelana que ficava no abajur da Molly, irmãzinha do Andy. Voltando para os dias atuais, agora os brinquedos pertencem a garotinha Bonnie, que vai para o seu primeiro dia de aula na pré-escola e está apavorada com isso (quem nunca?). Nesse contexto todo, o Woody (que não é mais o brinquedo favorito e acaba passando um bom tempo no armário da Bonnie) decide fazer algo para ajudar a sua criança, afinal, ele tem isso como uma missão, manter a sua criança feliz e segura. É com a ajuda dele que Bonnie acaba – literalmente – fazendo um novo amigo na escola, o Garfinho. E ela acaba se apegando muito a esse brinquedo. Mas o Garfinho não consegue entender que agora é um brinquedo e só tem vontade de ir para o lixo (ele foi feito com restos de materiais – incluindo um garfo descartável). Algumas das piadas mais engraçadas do primeiro ato mostram Woody tomando para si a responsabilidade de impedir Garfinho de se jogar no lixo e vigiando o tempo todo a integridade física do suicida, digo, do brinquedo.

A aventura realmente começa quando, ao irem todos viajar com Bonnie e sua família, Garfinho e Woody se perdem no meio do caminho e vão parar em um parque de diversões cheio de crianças, outros brinquedos e muita confusão. É nesse parque que Woody reencontra a boneca Betty e também faz novos amigos. No meio disso tudo ele vai entender um pouco mais sobre a sua
própria missão como brinquedo e encontrar o seu verdadeiro caminho. Nesse filme quase todo o protagonismo recai sobre o Woody, o que não é ruim, mas pode ser cansativo em alguns momentos. Em contrapartida, ter a boneca Betty de volta – agora como um brinquedo livre e independente – trouxe um fôlego novo para a trama. Parece bobagem, mas ver uma boneca (menina) que decidiu, por vontade própria viver sem um lar fixo, morando em lugares diferentes e conhecendo brinquedos de todos os tipos me pareceu bastante inspirador e divertido (guardadas as devidas proporções, claro). Ela ainda tem vários truques de sobrevivência, é ágil, inteligente e luta bem pra caramba!

A Disney NUNCA dá ponto sem nó e isso fica muito claro no roteiro (escrito por Andrew Stanton) que nos apresenta alguns dos dilemas da vida adulta, tais como ter um propósito na vida, não se adequar a determinadas regras sociais, a busca de caminhos secundários para ser feliz, etc. A geração que viu o primeiro Toy Story, láááá em 1995 já está com os seus 30 e tantos anos hoje em dia e provavelmente irão ao cinema ver esse filme com os filhos, sobrinhos, afilhados ou afins, encontrarão naqueles personagens que estão na tela um fragmento da própria infância, mas também compreenderão que eles (os brinquedos) amadureceram e estão entendendo o seu lugar no mundo (igualzinho a nós humanos do lado de cá da tela). Isso, no final do filme, dá um conforto para a alma e para o coração que eu nem consigo descrever. Méritos também para o diretor Josh Cooley. É o seu primeiro trabalho como diretor, mas ele já trabalha na Disney a alguns anos e esteve nas equipes que produziram Up – Altas Aventuras, Divertidamente e Ratatouille, então ele já entende do assunto e não decepciona.

Os novos personagens são muito bem aproveitados, com destaque para a boneca Gabby. Em um primeiro momento ela parece uma gélida e perversa vilã de filmes noir, mas depois que entendemos sua natureza e o seu real desejo tudo fica claro e a cena é de fazer chorar. Entra em cena também a dupla Patinho e Coelhinho, dois bichos de pelúcia maravilhosamente debochados e fofos. Com certeza, eles são o maior alívio cômico do filme, principalmente quando começam a descrever os seus planos maquiavélicos.

A produção gráfica é incrível, realista e muito detalhada (prestem muita atenção no gato que mora no antiquário). Dispondo da mais recente e moderna tecnologia, a Disney-Pixar nos entrega personagens tão reais que até esquecemos que estamos diante de brinquedos. As cores do desenho são vivas e de encher os olhos e a trilha sonora original (composta por Randy Newman, também responsável pela trilha dos outros filmes da série) é certeira e nos dá o tom certinho da cada cena, seja ela dramática ou de ação.

Minha nota negativa é para a participação do Buzz Lightyear. Outrora um dos personagens principais, aqui ele é praticamente um coadjuvante de luxo. Ele está na trama, parece que vai ser útil, mas no fim das contas ele não serve para solucionar nada. E diferente dos outros brinquedos, parece que o Buzz está mais infantilizado nesse filme, como se não tivesse “amadurecido”. Achei isso bem estranho e, de certa forma, destoou do outros personagens e da proposta do roteiro.

No geral, jamais poderemos acusar a Disney de querer ganhar dinheiro fácil com essa franquia, pois em cada cena e cada pequeno detalhe a gente percebe o cuidado e a dedicação de todos os envolvidos nesse projeto. E o resultado é muito bom. Vai agradar tanto crianças quanto adultos. A trama é boa, envolvente e sem furos significativos, os diálogos são bacanas e as piadas tem um timing cômico melhor que muito filme de comédia por aí.

Resumindo: Toy Story 4 é uma deliciosa diversão que respeita o passado da franquia, mas não se apega a ele. E está tudo bem se a gente acaba trocando de melhor amigo em algum momento da vida. 🙂

Ana Paula Santos tem 34 anos mas ainda não superou a cena da morte do Mufasa no Rei Leão.

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