Assistimos a “Histórias Estranhas” e, olha, é um filmão!

Lord A

Histórias Estranhas reúne 8 curta metragens que nos levam por uma noite adorável de pesadelos. É um passeio visual com aquele toque onírico que transcende a cinzenta e disforme perversidade humana, tão comum no gênero. Vemos nuances de uma escuridão mais cósmica, imprevisível e com a qual somos desnudados pois é impossível barganhar. Aquela região além dos ídolos e do ego, é bem para lá que alguns desses filmes nos levam. Difícil é passar impunemente por algumas destas histórias. Destaque especial para a levadinha musical com pegadas de synthwave e para algumas produções muito caprichadas!

A pré-estreia oficial de Histórias Estranhas, em 21 de maio de 2019, dois dias antes de entrar em circuito nacional, foi marcante e com direito a sala cheia com bem mais de 200 pessoas. Outro ponto bacana é que o filme conta com a distribuição da Elo Company e isso é verdadeiramente fantástico para o terror e o fantástico brasileiro. Estivemos por lá e assistimos em primeiríssima mão. Vá assistir também!

Originalmente a obra seria chamada 13 Histórias Estranhas – Parte 2 e seria uma espécie de continuidade de uma coletânea anterior. Segundo consta, ficaram apenas 8 filmes pois alguns diretores não conseguiram entregar a tempo ou finalizarem suas obras dentro do rigor técnico combinado, que atendesse os requisitos das salas de cinema e dos streamings.

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Como já foi citado, Histórias Estranhas é uma coletânea de oito contos que apresentam as mais variadas abordagens do horror, do bizarro e do inexplicável, como bruxas, demônios e serial-killers. As histórias são: “Ninguém”, “A Mão”, “Mulher Ltda.”, “No Trovão, Na Chuva Ou Na Tempestade”, “Os Enamorados”, “Invisível”, “Sete Minutos Para A Meia-Noite” e “Apóstolos”. Vamos falar um pouco de cada um dos curtas:

Em No Trovão, Na Chuva ou na Tempestade, dirigido pelo Paulo Biscaia Filho, reencontramos Macbeth e as icônicas três bruxas em uma clareira nos arredores das grandes metrópoles.

Sete Minutos para a Meia-Noite, do Ricardo Ghiozi, revive a clássica chegada de um bebê amaldiçoado oriundo de um pacto satânico, mas sem o glamour das altas rodas e sim na miséria de um jovem casal. O diabo da vez não quer lastros ou vínculos morais com ninguém e cumpre sua parte do trato em acabar com a miséria do casal.

Ninguém, do Rodrigo Brandão, é interessante pois o protagonista parece estar vivendo isolado e desaurido, no meio de um apocalipse zumbi (ou tragédia escatológica semelhante) em ambiente hostil e escasso de recursos. Não vou contar mais para não estragar o desfecho.

A Mão, do Kapel Furman, é visceral e grotesco. Demonstra como algumas inteligências não-humanas escondidas sob peles e invólucros humanos existem por aí roubando glândulas pineais de suas vítimas. Ao menos foi a interpretação que eu tirei da obra. Dos oito, é o filme mais viscoso, grotesco e caprichado neste sentido! Que monstros são aqueles???

Mulher Ltda., realizado pela diretora Taísa Ennes Marques, é fantástico tanto na estética quanto nas referências, e na pegada de contar uma boa história enquanto dá um recado e uma alfinetada importante. Basicamente, dois cientistas descobrem como reviverem mulheres mortas e as comercializarem como produtos, um tipo de escravas masculinas sem vontade própria. Quem curtiu “Frankenhooker”, “Mulheres Perfeitas” e “Re-Animator” certamente pegará as referências.

Para quem aprecia Magia do Caos, o filme Enamorados, dirigido pelo Claudio Elovitch, é incrível. A obra toca na questão dos sigilos e servos astrais, e tem uma atmosférica lisérgica e deliciosamente surrealista. Claro, tem um desfecho igualmente trágico e não se preocupa com tornar inócuos os riscos de se aventurar e traficar com o outro lado.

Invisível, de Filipe Ferreira, nos chamou a atenção pela originalidade. É a história de uma pessoa que nasceu invisível contada em vídeo como uma despedida para o seu filho, que nasceu normal e sem esta condição peculiar.

O desfecho vem com o sensacional Apóstolos, do Marcos de Brito, onde podemos mencionar que o jogo entre metáforas e símbolos religiosos, tabus e totens é muito bem delineado, e a execução surpreende em todos os sentidos. A participação do ator e livreiro Luiz Machanoscki como protagonista é simplesmente icônica!

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