Duas silhuetas adentram a Interzona
Aos meus onze já tinha ouvidos
e esses labirintos auditivos me levaram
para dentro de uma cemitério italiano
numa cidade industrial inglesa
e para dentro de um mítico vale,
entre as escarpas e falésias dos cânions,
num incerto dia de 87…
E aquelas vozes eram de outro mundo!…
O apelo de um cowboy engolido por um tornado,
que perdeu seu cavalo para sempre
ou a de um soldado camicase dentro de um túnel,
lutando para não ver a luz no fim, ainda ecoam…
Um fantasma na autoestrada
dando carona a um sonâmbulo…
Eu ouvi Ian Curtis
e ouvi Jeffrey Lee Pierce na mesma época
e eles me soaram irmãos gêmeos de som e fúria,
raiva e melancolia.
Tanto Joy Division quanto Gun Club,
retratam mundos paralelos
de homens em constante fuga e em autocombustão.
Ambos tinham William Burroughs
como combustível para o fogo,
além de outras referências.
L.A e Manchester como trampolim para o incerto.
Mas, certamente se encontravam em NY.
Um com uma devoção infinita a Debbie Harry,
O outro com uma paixão dilacerante por Lou Reed.
Ambos procuravam
um lugar além desse espaço e tempo,
no subterrâneo da cidade e da mente,
onde pudessem transitar sem o peso do corpo,
sem o peso insuportável da armadura humana.
Procuravam cada um, a sua maneira,
por substâncias ilícitas, por caminhos desconexos
que os levassem a um paraíso,
mesmo que artificial,
mesmo que efêmero,
mesmo que areia movediça,
mesmo que fata Morgana.
Ambos adentraram esse lugar,
esse cabaré cigano,
essa rua obscura
pelas brechas da mente
e jamais foram vistos novamente.
Suspeito que ambos adentraram a Interzona.